(Editora Campo das Letras| 2000| 212 páginas |?? reais)
Ambiente de terror
O livro de Lúcia faz-nos recuar no tempo e mergulhar no
ambiente religioso e eclesiástico em que também as crianças de Fátima tiveram
de viver, por volta de 1917. Eram os tempos da Primeira Grande guerra. Mas o
terror que se respirava, nomeadamente, nos meios populares e rurais, não vinha
apenas daí. A catequese familiar e paroquial, mais as pregações dominicais e
outras, então, muito requentes, constituíam um género de terror não menos
intenso e, também, não menos nefasto e assassino. Porque incidia sobre a
consciência das pessoas, especialmente, das crianças, pequeninos seres
indefesos e carregados de sensibilidade, prontos a acreditar em tudo quanto
lhes dissessem os adultos, pais e mães, e ainda mais, bispos e párocos, cuja
palavra era, miticamente, escutada e seguida, como se fosse a própria vontade
de Deus, presente no meio do povo. (O livro de Lúcia mostra, à saciedade, que
ela própria, ainda hoje, tantos anos depois, se mantém nesta visão mítica da
realidade, também da realidade eclesial, embora uma tal visão seja
completamente estranha à libertadora mensagem do Evangelho).
Jacinta, Francisco e Lúcia respiram um ambiente assim. O
livro não deixa dúvidas a quem o souber ler nas entrelinhas, criticamente, sem
se deixar envolver no misticismo religioso, quase doentio, em que ele nos
aparece escrito.
Percebe-se bem que o terror é uma constante nas vidas destas
três crianças. Vivem apavoradas com o pecado, com o inferno e com os