06/11/2011

Contra um mundo melhor - Ensaios do Afeto de Luiz Felipe Pondé

(Editora Leya do Brasil|2010|218 folhas|39,90 reais)

É um grito de libertação à patrulha do bom-mocismo que encaramos hoje em dia. Não é um livro otimista ou reconfortante – mas talvez você se sinta aliviado ao conhecê-lo. Vai descobrir que não precisa gastar tanta energia tentando acreditar em si próprio, satisfazer os outros ou atingir a felicidade.  Abaixo, alguns trechos que adorei:

Tenho uma ética afinal de contas. Mas ela nada vale para quem se preocupa com ética. Mas eu, como já disse antes, não confio em pessoas éticas. Minha ética começa aqui: sempre parto do princípio de que serei um derrotado ao final, pouco importa o que eu faça. Nesse sentido, a autoconfiança tem em mim o mesmo efeito que os odores que emanam dos corpos nos necrotérios: o cheiro de um sonho risível de futuro.

Não acho que tenhamos mudado um milímetro desde a experiência nazista. Naquele momento, muitos europeus colaboraram com o massacre não apenas porque odiavam as vitimas dos nazistas (nem precisavam odiá-las, isso seria até demais pensar), mas apenas pelo amor ao cotidiano. Hoje em dia, se qualquer regime decidisse perseguir o grupo do qual seu vizinho faz parte, você fecharia os olhos como os franceses fizeram. A covardia e o amor à rotina acomodam mais os homens ao crime coletivo e social do que a força das ideias. Em nome de um emprego melhor, em nome de sentir menos medo diariamente, em nome de conseguir melhor qualidade de vida, aceitamos qualquer crime.

Ler livros de autoajuda, arrumar sofás de acordo com as energias da casa (submetendo o universo às mesquinharias diárias que toda casa esconde sob sua sala de jantar), reciclar lixo como momento ético mais alto do dia, lavar as mãos com álcool gel por medo de vírus, respeitar o parceiro no amor (aliás, quem respeita o parceiro no amor é porque não ama; “respeitar o parceiro no amor” é uma das mentiras mais chiques que circulam por aí), tudo isso é brega.  Enfim, o que nos torna humanos são nossas desgraças. Por isso, uma sociedade que estilo de “utilitarista de afetos”, movida por uma geometria do útil, como a nossa, em que quase todo mundo carrega o rosto idiota de quem vive buscando a felicidade, se desumaniza à medida que se faz estrategista eterno do sucesso existencial. (Por Leandro Narloch - http://guiapoliticamenteincorreto.wordpress.com/2010/12/13/tres-livros-para-as-ferias-1-contra-um-mundo-melhor-luiz-felipe-ponde/)


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