19/11/2011

O Tempo e o Cão -a atualidade das depressões - Maria Rita Kehl

(Editora Boitempo Editorial|2011|304 folhas|39,00 reais)

"Há uma dívida generalizada do sujeito contemporâneo de nunca estar tão em sintonia com essa euforia que lhe é exigida"

Apesar de atender no consultório há 25 anos, faz apenas 6 que a psicanalista paulista Maria Rita Kehl começou a tratar casos de pacientes que se declaram deprimidos. Coincidentemente ou não, desde que passou a admiti-los, notou um crescimento da demanda por esse tipo de tratamento. Somados a essa experiência pessoal estão os dados. Na França, da década de 70 para a década de 80, o número de depressivos aumentou 50%. No Brasil, nos primeiros anos do século XXI, 17 milhões de pessoas foram diagnosticadas como depressivas.

Os números, certamente, refletem também um aperfeiçoamento das técnicas diagnósticas e a urgência da indústria farmacêutica de incentivar médicos e psiquiatras a identificar como depressão alguns sintomas isolados para aumentar a venda de antidepressivos, mas eles indicam o lugar bastante importante que a depressão ocupa, e não só apenas na prática, na quantidade de pessoas que vão a ambulatórios e hospitais dizendo-se deprimidas, mas também no nosso imaginário, explica Maria Rita. "Parece que a depressão se tornou um pouco o fantasma que indica o avesso do avesso da nossa sociedade eufórica."

No livro "O Tempo e o Cão", recém-lançado pela Boitempo, ela expõe sua teoria de que a depressão, para além de ser o sintoma de sujeitos em sofrimento, se tornou um sintoma social. "A moral social contemporânea praticamente obriga ao gozo e à alegria. E as pessoas deprimidas ficam na contramão, digamos assim", afirma Maria Rita, autora de vários outros livros, como "A Mínima Diferença - O Masculino e o Feminino na Cultura" e "Sobre Ética e Psicanálise".

Para ela, as pessoas, quando sofrem, já não sofrem mais apenas daquilo que as faz sofrer - uma perda amorosa, uma morte na família, o desemprego -, mas sofrem ainda mais da culpa de estar sofrendo. "Há uma dívida generalizada do sujeito contemporâneo de nunca estar tão em sintonia com essa euforia que lhe é exigida", completa Maria Rita, doutora em psicanálise pela PUC de São Paulo. 

Extraído do Blog do Lisandro:
 http://lisandronogueira.blogspot.com/2009/04/depressao-o-tempo-e-o-cao.html, com uma entrevista da autora conduzida por Mariane Morisawa.


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